Se você decidiu ler esse artigo em busca de uma opinião sobre o Brasil estar ou não na tal bolha imobiliária, vou ter que decepcioná-lo. A WG Finanças Pessoais tem uma política de explicar aos seus clientes os investimentos e situações econômicas para que eles possam entender os parâmetros dos conselhos e análises que oferecemos. Já nos artigos tentamos ser um pouco instrutivos, uma vez que o número de pessoas que os leem é maior do que apenas os nossos clientes. Um efeito colateral muito positivo é aumentar um pouco a qualidade do "papo de boteco" onde todo brasileiro se torna um perito em economia, política, futebol e outras "ciências".
Como o assunto é rico, vou dividi-lo em dois artigos.
Vamos lá então ao primeiro: o que enfim é uma bolha, imobiliária ou qualquer outra? É uma valorização de um ativo muito maior do que seu real valor, ou valor intrínseco. Isso acontece com imóveis, ações, jogadores de futebol e parceiros amorosos. Mas o que leva a uma bolha? Por algum motivo passa-se a existir um excesso de demanda e o preço (o que se paga) se descola do valor real do bem. Um caso clássico é o famoso Tulip Mania - ocorrida na Holanda do século XVI. Vou descrever o caso de forma um pouco mais lúdica para o leitor conseguir fazer um paralelo com os dias atuais:
Certo dia um jovem holandês comentou com outro: "Colecionar Tulipas é a onda do momento". Provavelmente esse jovem viu a Bruna Marquezine da época usando uma tulipa no cabelo ou viu algum rico da Zona Sul admirando um bulbo plantado em seu jardim. A verdade é que começaram a reparar na tal plantinha.
Não demorou às Tulipas se tornarem sinal de status. Os ricos pararam de colecionar quadros e começaram a colecionar tulipas. O preço não parava de subir e como sempre existiam jovens que "sabiam fazer dinheiro" que começaram a especular com as flores que agora já eram negociadas em bolsa de valores. O preço atingia o ridículo de permitir a troca de pouquíssimas mudas por apartamentos em Amsterdã e um bulbo chegou a valer o equivalente a 24 toneladas de trigo.
Não duvido nada, ou melhor, tenho certeza que alguns comentários que se ouviram foram: "pode comprar, em um mês você vende por X% a mais. Coisa garantida" ou "se não aproveitar você está vacilando. Todo mundo está ganhando." Fato é que mesmo mudas que ainda se intencionava plantar já eram negociadas.
É claro que em algum momento alguém caiu na realidade e decidiu sair fora. Do jeito que era moda comprar virou moda vender e o resto da história vocês imaginam. Verdadeiras "fortunas" foram perdidas. Digo fortunas entre aspas, pois a pessoa nunca foi de fato rica, apenas achava que estava. Outros perderam fortunas sem aspas, porque investiram alto e não tiveram tempo de vender antes do derretimento dos preços.
Explicado o funcionamento básico de uma bolha, vamos à bolha especificamente imobiliária, afinal o que o leitor está pensando é: "ok, mas tulipas não servem pra nada. Em imóveis a gente mora". Na parte II falarei disso.
Lucas Radd - economista e sócio da WGFP, planejador financeiro pessoal CFP® e gestor de carteiras CGA pela Anbima