Muitos acreditam que se planejar e ter controle financeiro significa cortar gastos e deixar de fazer o que quer hoje para colocar na poupança tudo o que puder. A grande diferença entre se tornar um economizador excessivo e um planejador (no sentido correto da palavra) é não deixar que as economias, em nome de um futuro garantido, lhe custem o bem estar no presente. O excesso de poupança gera falta de consumo, o que não é bom nem para o conforto do consumidor nem para a economia como um todo.
O planejamento financeiro é, portanto, o encontro do equilíbrio nos gastos, de forma que o nosso padrão de vida e de consumo seja mantido tranquilamente no futuro. O foco no acúmulo de patrimônio e poupança sem objetivo de nada adianta quando deixamos de aproveitar o dia de hoje.
O mais importante é a consciência do que se está fazendo e a análise constante dos objetivos futuros. Uma nova roupa, por exemplo, quando não se tem a poupança necessária para comprá-la ou apenas por impulso, irá gerar uma dívida que poderia ser evitada. Já deixar de comprar uma roupa que de fato é necessária, apenas para poupar um pouco a mais, não faz sentido. O consumo deve ser controlado, e isso não quer dizer cortar todos os gastos: é conseguir um equilíbrio entre poupar e consumir, de forma que você gaste hoje sem comprometer sua capacidade de consumo no futuro. É consumir o que precisa e o que deve, e não o que simplesmente quer. Dentro dessa lógica, os custos fixos devem ser reduzidos ao máximo, para que eles não comprometam os gastos com lazer e com a manutenção da qualidade de vida.
Deixar de gastar é ruim, muitas vezes penoso e desanimador, o que faz com que muitas pessoas desistam. Por isso a importância do equilíbrio: com ele haverá sempre motivação, essencial para nos sentirmos recompensados e continuarmos com o planejamento. É preciso deixar de agir por impulso e estabelecer objetivos para que tenhamos sempre um bom motivo para economizar em algumas coisas em troca de conquistar outras, para que o consumo futuro seja melhor e de maior qualidade do que se utilizássemos o mesmo dinheiro para consumir hoje. A qualidade desse consumo, que nos motiva, juntamente com a poupança planejada, que nos dá certeza de que esse consumo não faltará no futuro, é o que nos torna de fato planejadores, e não pão duros.
Emanuella Xavier - economista, planejadora financeira e sócia da WG Finanças Pessoais