Segundo um estudo recente feito pela consultoria Economática, desde o Plano Real as empresas estatais têm sofrido uma desvalorização cruel por causa do intervencionismo do governo federal na economia. Isso porque, para investidores, é péssimo investir em empresas que possam sofrer, de um dia para o outro, alguma alteração estipulada pelo governo.
Os maiores exemplos disso são a Petrobras, que há muito tempo tem prejuízos enormes vendendo combustível por um preço inferior ao do mercado internacional, o Banco do Brasil, que aumentou em 25% a sua carteira de crédito - e portanto também o risco de inadimplência - no último ano (quatro vezes mais que os bancos privados) e as elétricas, que tiveram a renovação das suas concessões condicionadas a reduções nas tarifas cobradas, diminuindo consideravelmente o seu lucro.
O governo dos últimos 12 anos vem sacrificando o ganho dessas empresas para controlar preços e estimular o consumo, o que prejudica a sua rentabilidade. E isso ficou ainda mais claro e evidente no mandato de Dilma Rousseff. O investidor não quer pagar essa conta. Por isso, o mercado aposta que, quanto piores forem as pesquisas eleitorais para a Presidente, mais as ações dessas estatais (que tem um grande peso no Ibovespa) sobem e mais a confiança do empresário e do investidor no país aumenta.
Portanto, à medida que os índices de aprovação da atual Presidente caem, há uma valorização do mercado de ações e uma diminuição do prêmio de risco pago no mercado de juros futuros (que representam a expectativa do mercado para os juros daqui a um determinado tempo). Na visão do mercado, fica menos arriscado investir aqui, e portanto é possível pagar juros menores para atrair investidores.
Dessa forma podemos entender como esse "Efeito Dilma" afeta outro tipo de investimento muito diferente das ações, o Tesouro Direto: A expectativa dos juros no longo prazo é o que norteia o Tesouro Nacional ao estipular o quanto eles irão pagar para os investidores "apostarem" no governo. Se a curva de juros futuros no longo prazo mostra uma tendência de queda - o que está acontecendo a medida que a possibilidade da oposição vencer a próxima eleição aumenta - o Tesouro irá prometer uma rentabilidade menor do que estava prometendo antes aos investidores. Como exemplo, podemos citar compras feitas em janeiro de 2014 que foram atreladas a taxas de aproximadamente IPCA + 7% ao ano com vencimento em 2035 (ou 13,5% ao ano pré-fixados com vencimento em 2025), contra os IPCA + 6% ao ano ou 12% pré-fixados de julho desse ano.
Na prática, isso significa que os futuros investidores do Tesouro estarão aplicando o seu dinheiro a taxas menores que as disponíveis antes. Ou seja, estão piores do que os que compraram títulos no início do ano. Para os que compraram títulos no início do ano, o efeito pode ser sentido no preço a mercado (preço caso você queira vender o seu título hoje) dos papéis, que estarão sobrevalorizados - uma vez que o mercado está oferecendo uma taxa menor do que a que esse investidor tem garantida. Os que não compraram os títulos numa época tão boa assim e passaram todo o ano passado assistindo o preço a mercado cair, agora voltam a ver a rentabilidade positiva.
Fique atento aos movimentos do mercado, mas atente-se para que a rentabilidade pactuada no momento da compra está garantida se você levar até o vencimento. E tenha consciência de que apesar das taxas estarem começando a cair, ainda é um ótimo momento para se comprar papéis do governo. Afinal, continuamos sendo um dos únicos países do mundo que oferecem, na renda fixa, um ganho real (eliminando a inflação) acima de 5% ao ano, e caso o palpite do mercado sobre o futuro da política se confirme (oposição ganhe), é possível que os juros caiam ainda mais.
Emanuella Xavier - economista, planejadora financeira e sócia da WG Finanças Pessoais