Muito já foi discutido sobre o quanto a cultura imediatista do brasileiro influencia as suas estratégias de investimento. A justificativa é plausível: a renda fixa nas últimas décadas no Brasil teve um ótimo desempenho, puxado pelos juros elevados por causa da alta inflação. O brasileiro está acostumado a se colocar a escolha de consumir hoje ou guardar para amanhã, e optar por guardar para o futuro só é cogitado quando o investidor acredita que o prêmio pago por isso (a taxa de juros do investimento) é justo.
De acordo com uma recente pesquisa global sobre o Sentimento de Investidores 2014, feita pela Franklin Templeton (uma das maiores gestoras de investimentos do mundo), o brasileiro é o investidor mais otimista do mundo.
Conforme a pesquisa, que entrevistou 11.113 pessoas em 22 países, os aplicadores daqui esperam o maior retorno médio de todo o grupo, com uma expectativa de rentabilidade de 13,5% para 2014 e de 21,5% ao ano para a próxima década.
Além de esperar esse ganho elevado, o brasileiro ainda é confiante: 90% dos entrevistados está otimista ou muito otimista em atingir suas metas de investimento. Mas embora esperem alta rentabilidade e acreditem que conseguirão atingir suas metas, os investidores brasileiros se mostram conservadores, já que apenas 36% pretendem adotar estratégias mais agressivas como forma de melhorar o desempenho do portfólio.
A baixa tolerância a perdas também é um agravante: Para 31%, prejuízos simplesmente não são aceitáveis e 44% aceitariam apenas pequenos revezes em um cenário de dez anos. Isso faz com que o investidor não tenha disciplina para resistir e acabe mudando a sua estratégia por causa de perdas pontuais e temporárias, prejudicando o resultado de longo prazo.
Expectativa de retorno médio muito alto, confiança em atingir as metas, pouca disponibilidade para adotar estratégias agressivas e aversão ao risco são coisas que não combinam. A conta simplesmente não fecha. O brasileiro está acostumado a visualizar apenas o curto prazo, e a acreditar que tudo no final vai dar certo independente do seu planejamento.
O problema é que há muito tempo a nossa economia não oferece taxas suficientemente atrativas para esses investidores. Como discutido no artigo Os bons tempos que não voltam mais?, o consenso por aqui é o um retorno mínimo em torno de 1% ao mês, equivalente a pouco mais de 12% ao ano, o que é raridade na atualidade. Desde janeiro de 2007, o CDI ficou acima desse patamar em menos de 12% dos meses do período.
O Brasil atualmente ainda apresenta algumas oportunidades interessantes, mas a tendência é que com a inflação mantida relativamente sob controle e o desenvolvimento da economia, fique cada dia mais difícil conseguir aplicações de baixo risco com rendimento acima da inflação no longo prazo.
A única saída para o investidor não se decepcionar quando perceber que as suas projeções não estão sendo alcançadas, (como discutido em Investimentos de Longo Prazo e Planejamento), é sair da inércia e adaptar as suas expectativas de acordo com as suas estratégias de investimento. Aceitar um pouco mais de risco e se planejar no longo prazo (e por longo eu me refiro a uma prazo mínimo de dez anos) serão comportamentos obrigatórios caso o investidor pretenda atingir as rentabilidades imaginadas.
O primeiro passo para isso é pesquisar todas as rentabilidades esperadas dos seus investimentos e fazer todas as contas para saber se elas serão suficientes para atingir o montante desejado no longo prazo. Seja realista, para que a meta estabelecida também se torne realidade. Se precisar de ajuda, procure um consultor de investimentos qualificado para te ajudar na projeção e execução do seu plano de investimentos.
Emanuella Xavier - economista, planejadora financeira e sócia da WG Finanças Pessoais