Até bem pouco tempo, o brasileiro não se preocupava em saber como lidar com o seu dinheiro, e muitos ainda não sabem. Como discutido no artigo Planejamento Financeiro: A Busca do Equilíbrio entre Consumo e Poupança, o orçamento é o ponto de partida para se planejar. Ele é determinado pela previsão dos ganhos e gastos ao longo de um período. Com o orçamento em mãos, é hora de estabelecer metas que permitam o controle de gastos, estabelecendo prioridades e uma reserva financeira. A gestão desse orçamento deve ser constante, considerando todos os gastos eventuais, imprevistos e esporádicos, que normalmente acabam sendo esquecidos e responsáveis pelo descontrole.
As consequências desse descontrole são muitas, que vão desde a perda de patrimônio, endividamento, desperdício de recursos e até estresse. Sem planejamento e com o consumo exagerado, há grandes chances de o indivíduo enfrentar crises financeiras.
Quando essa crise chega, a primeira providência a ser tomada é cortar todos os gastos supérfluos, que vão desde compras desnecessárias até o próprio supermercado (muitas vezes repleto de artigos de luxo). O objetivo é enxugar o máximo possível o orçamento e comprar somente o extremamente necessário, de forma que sobre ao final do mês um valor que seja destinado a pagar as dívidas.
Num segundo momento, é preciso analisar todas as dívidas e lista-las em ordem de prioridade de pagamento, de acordo com os juros mais caros. Calcule todo o valor que está pendente, para então partir para as renegociações. Elas consistem basicamente em ir até os bancos e financeiras com os quais você tem as pendências e assumir a sua incapacidade de pagamento. Depois de um longo período sem receber, qualquer credor terá interesse em retirar uma parte dos juros e negociar um novo valor que atenda às duas partes, para enfim receber.
Após reduzir os saldos devedores, são duas as opções básicas para o pagamento das mesmas. A primeira e mais comum delas é tomar um novo empréstimo bancário, no valor do saldo renegociado de todas as dívidas, com um prazo mais longo e taxa de juros menor do que os anteriores, de forma que as parcelas caibam no orçamento atual. O valor desse empréstimo assim como a sua taxa de juros dependerá de fatores como renda mensal, relacionamento com o banco e principalmente se será dada uma garantia ou não. Quanto maior as receitas, o tempo de conta no Banco desejado e a garantia dada, melhores serão as condições do empréstimo. Portanto é preciso considerar todos os bens (imóveis, fazendas, terras, veículos, entre outros) que possam ser refinanciados para um empréstimo melhor: se ele for bem planejado, de forma que a parcela não comprometa o orçamento novamente, o problema inicial estará eliminado e não haverá mais inadimplência - portanto os bens não serão tomados.
Como segunda e mais extremista opção, temos a venda de bens. É uma opção drástica e, pela cultura do brasileiro, mais dolorosa, mas que resolve prontamente todo ou grande parte do problema. Não faz sentido ter dívidas que comprometam o orçamento todo mês enquanto se tem bens acumulados. Além de ser uma ótima solução, se não vendidos, esses bens podem prejudicar ainda mais a vida financeira pela manutenção que demandam (manutenção, condomínio, funcionários, etc). Se não for possível arrecadar o valor total necessário para o pagamento das dívidas, deve-se dar prioridade para aquelas que estão no topo da lista feita anteriormente, com os juros mais caros.
Decidido qual a melhor opção para eliminar os seus problemas financeiros e após a implementação da mesma, o processo de quitação de dívidas se inicia. A partir desse momento é necessário um extremo cuidado com as decisões futuras e um controle muito rígido do cotidiano de gastos. Qualquer deslize pode prejudicar todo o trabalho feito anteriormente, e os problemas voltarão piores do que chegaram. Se tiver dúvidas, procure um profissional isento de conflito de interesses para orientá-lo.
Emanuella Xavier - economista, planejadora financeira e sócia da WG Finanças Pessoais