A grande maioria dos investidores brasileiros, devido ao costume de sempre ter alcançado rentabilidades muito boas ao longo do tempo, preferem o conservadorismo e a tranquilidade oferecida pela renda fixa. Entretanto, esse cenário já vem mudando há algum tempo, o que mostra a necessidade do investidor estar mais bem informado sobre as variações do ambiente econômico e sobre a sua influência sobre os seus investimentos.
Desde o início de 2011, os juros estão em constante queda - a meta da Selic em 20/04/2011 era 12% ao ano, contra a meta atual de 7,25%. Juntamente com a inflação mantida sob controle, os juros reais caíram. Como o valor dos títulos é inversamente proporcional a esses juros, os títulos do Tesouro Nacional e os fundos atrelados a eles tiveram uma valorização espetacular, compensando inclusive o desempenho ruim que o mercado de ações teve (uma média de 20% de rentabilidade, contra 7,4% do Ibovespa).
Mas como os mercados são dinâmicos e estão sempre mudando, ao final de 2012 a inflação começou a dar sinais de relativo descontrole, que está sendo comprovado com números desde o final de janeiro. Estão todos, portanto, esperando uma resposta do governo para o controle dessa inflação com a alta inevitável dos juros. O efeito automático é a desvalorização dos papéis do Tesouro que estão atrelados a essa taxa de juros. Um exemplo desse tipo de papel é a NTN-B, que é pós-fixada com rentabilidade vinculada à variação da inflação (IPCA), acrescida de juros definidos no momento da compra. Nesse caso, a alta inflação irá corrigir o valor do título proporcionalmente a ela, mas os juros que foram predeterminados são, como dito acima, inversamente proporcionais à taxa Selic. Ou seja: caso a Selic suba, esse componente da rentabilidade dos títulos resultará em desvalorização desses papéis.
O que fazer agora? O futuro é incerto e o momento é de muita cautela. Mas apesar da incerteza, é preciso focar no objetivo que foi traçado ao investir nesses papéis - longo ou curto prazo. Se você está interessado em utilizar o dinheiro como parte da sua estratégia de aposentadoria e independência financeira, além de estar diversificado em outros tipos de investimento ou pretender fazer várias outras compras, aos poucos, a fim de fazer preço médio, não há motivo para preocupação. No vencimento dos títulos, você terá o que lhe foi prometido no momento da compra e a sua rentabilidade estará garantida pela média dos preços de compra e dos outros investimentos. Mas se você estiver interessado em retirar o dinheiro alocado no curto prazo, é aconselhável procurar por outros produtos de renda fixa de prazo menor, ou até mesmo mudar para a LFT, papel do próprio Tesouro, que paga taxas proporcionais à Selic e oferece um pouco mais de estabilidade.
O mais importante é ter a consciência de que, no mercado financeiro, o passado fica para trás. Ele é completamente isento de influências futuras, e a única coisa que pode nos fornecer são informações do que já passou. Não importa se fundos de renda fixa tiveram rentabilidades fantásticas no ano passado, porque atualmente as perspectivas mudaram e a expectativa é exatamente o contrário. Não tome decisões com base em opiniões passadas apenas. Informe-se sempre com pessoas de opiniões isentas de interesse, e que saibam lhe mostrar exatamente qual é a expectativa atual, além de todos os riscos embutidos naquela recomendação.
Emanuella Xavier - economista, planejadora financeira e sócia da WG Finanças Pessoais