Ruchir Sharma foi entrevistado no programa Milênio da Globo News no final de Maio de 2016. Sharma é economista-chefe da área de emergentes do Banco Morgan Stanley e ficou conhecido no Brasil  depois que publicou o artigo chamado “Apostando Contra o Brasil”, na Revista Foreign Affairs em 2012. No artigo, fez previsões pessimistas para o país que se concretizaram. Sharma é autor do novo livro “Ascensão e queda das nações – Forças de mudanças em um mundo pós-crise”, onde enumera regras que ele acredita para o crescimento da economia de um país.  Na entrevista, ele descreve os pontos positivos do país, os problemas econômicos e o que o Brasil deve fazer para sair da crise segundo as regras do livro.

Um dos pontos positivos é que  a população brasileira ativa está em crescimento, ao contrário da maioria dos países. Hoje, há 30 países em que população em idade ativa está encolhendo, como a China, o que é um grave entrave ao crescimento econômico. Para Sharma, dois fatores são importantes para o crescimento econômico, o crescimento de mão-de-obra e a produtividade.

Ele também vê com bons olhos a mudança de partido no poder, recentemente acontecida pela troca do PT para o PMDB. Sharma afirma que quanto mais tempo um líder ou partido fica no poder, pior é para ao país. Ele ainda menciona que no início do comando, Lula foi bom para o país, mas foi se perdendo quanto mais tempo permanecia no poder, que já chegou nas mãos de Dilma com uma liderança fraca.

A desvalorização do câmbio é positiva, mas  segundo Sharma, o Real ainda precisa se estabilizar a 4 por 1 em relação ao dólar, uma taxa de câmbio persistentemente desvalorizada  para ajudar o país a reconstruir sua base exportadora e industrial, e isso tem que ser feito junto com incentivos à indústria e abertura comercial.

Pelo lado negativo, Sharma acha o Brasil de hoje tão pobre comparado aos EUA quanto era há 100 anos. Isso acontece devido a um sistema de previdência grande demais para um país com sua renda per capita. A idade para aposentadoria é baixa demais comparada à de outros países, numa época em que as pessoas vivem muito mais. Uma das saídas para a crise é a reforma previdenciária.

Outro problema é o nível muito alto dos gastos públicos, cujo percentual em relação ao PIB é um dos maiores entre os países emergentes. O governo gasta demais e esse é o cerne do problema, o corte de despesas é fundamental para a retomada do crescimento do país.

Dentre todos os principais  países do mundo, os números do comércio no Brasil como parte da economia global são os mais baixos. Uma economia fechada e protecionista demais. O país faz acordo com os países errados e com foco na América Latina. As histórias de sucesso dos últimos 50 anos aconteceram em economias relativamente abertas. A China, por exemplo, é o maior exportador do mundo. Agora, enquanto a China perde uma fatia do mercado asiático, Vietnã, Bangladesh, Camboja e Sri Lanka estão ganhando espaço.

Os dois últimos problemas seriam que a inflação no Brasil se mantém alta, pois o país investe pouco. Quando se investe muito, a inflação se mantém baixa. No Brasil, quando a economia cresce um pouco, a inflação explode, devido aos muitos gargalos de abastecimento e infraestrutura na economia. Além disso, o  Brasil teve o problema de sua dívida crescer rapidamente nesta década. Quando a dívida de um país aumenta muito rápido, num período curto de tempo, esse país sempre fica em apuros, ou há queda brusca no crescimento ou surge uma crise financeira.

A entrevista se encerra  com RS afirmando que se os gastos públicos começarem a cair e se o Brasil abrir mais ao comércio internacional, o país deve melhorar mesmo com tendência global de queda na exportação de commodities e afirma que a boa notícia é que a política na América Latina (Brasil, Argentina e Venezuela) está melhorando e isso leva a um otimismo no aspecto político.

Frederico Portilho é sócio-diretor de Investimentos da WG Finanças Pessoais

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