F&C – Finanças & Comportamento: Reações a perdas e ganhos
Meu nome é Hugo Radd e me interesso pelo comportamento humano desde criança. Apesar de trabalhar no mercado financeiro, gosto de ler e me informar constantemente sobre como a mente humana funciona e como pessoas diferentes interpretam situações iguais de maneiras diferentes. Agora, juntando dois assuntos que gosto muito, inicio uma nova coluna no blog da WG Finanças Pessoais que discutirá as Finanças Comportamentais.
A principal diferença entre o ser humano e os robôs são nossas emoções. Ao contrário de um robô, que analisa situações como uma mera combinação binária de uns e zeros, um ser humano utiliza toda sua experiência de vida, suas emoções e seus princípios para decifrar uma informação e tomar uma decisão. Em alguns casos isso pode ser uma coisa boa, como uma mãe que faz o impossível para salvar seu filho, mas em outras situações essa perspectiva pode atrapalhar mais do que ajudar. Estas situações são os famosos “conflitos emocionas”, quando por exemplo, um médico tem que operar sua filha. O mesmo se aplica ao mundo dos investimentos. Uma pessoa investindo todo seu patrimônio, arduamente construído ao longo de décadas de trabalho duro, dificilmente conseguirá tomar uma decisão imparcial e é exatamente esse processo emocional que as Finanças Comportamentais buscam entender e explicar. Meu objetivo com essa coluna é analisar os vários vieses presentes em todas as pessoas, em maior ou menor grau, para que elas tenham uma conscientização maior sobre este assunto e saibam a hora de se afastar da situação e pedir ajuda a um profissional.
Hoje vou discutir não um viés, mas um ponto da Teoria da Perspectiva proposta por Tversky e Kahneman (1974). Optei por começar por este ponto em específico porque tive recentemente a oportunidade de observar o comportamento de um amigo que ilustrará perfeitamente este ponto! O evento foi mais ou menos assim:
Meu amigo me disse que queria fazer um investimento de curto prazo e, seguindo os conselhos de seu gerente, aplicou todo seu dinheiro em uma previdência VGBL Progressiva. De acordo com seu gerente, o Imposto de Renda seria fixo em 15%. Quando expliquei que a tributação da tabela progressiva aumentava de acordo com o resgate e que se ele resgatasse todo o investimento teria que pagar 27,5% de Imposto de Renda, meu amigo ficou inconformado. Imaginem então a frustração quando eu disse que a taxa de carregamento de saída do fundo que ele havia aplicado era de 5%, ou seja, teria que pagar 5% quando resgatasse o valor, além do I.R. Ele ficou revoltado, disse que processaria o gerente e o banco, revirou sua casa em busca do contrato, pesquisou as informações na Internet, etc. Então eu falei: “olha, o que eu posso fazer é portabilizar sua previdência para outro fundo, isento de taxa de carregamento e uma rentabilidade muito superior, sem custo algum”. Por incrível que pareça, ele murmurou “uhm.. bacana”, foi jogar buraco e não tocou no assunto novamente. Ele não quis nem perguntar quão superior seria a rentabilidade ou qual a o impacto da ausência da taxa de carregamento no saldo final.
De acordo com a Teoria da Perspectiva “a dor associada à perda de $X é maior que o prazer associado ao ganho do mesmo $X”. Meu amigo representou muito bem este ponto, quando ficou profundamente chateado que teria uma perda devido ao Imposto de Renda, mas não exibiu nenhum interesse diante da possibilidade de aumentar seus ganhos.
Um outro exemplo, um pouco menos direto, seria a falta de afinco com que as pessoas procuram bolsas escolares. Se você pudesse observar a reação de uma pessoa ao saber que perdeu R$ 300, provavelmente veria uma certa revolta. Porém, experimente pedir uma pessoa para fazer um processo seletivo de 30 minutos ou 1 hora e ganhar a uma bolsa escolar (ou um cheque, para quem não estuda) de R$ 300. Provavelmente ouvirá uma resposta desanimadora, justificando que “agora está muito apertada” ou que “o processo seletivo era muito confuso”, etc…
Portanto, da próxima vez que você se deparar com uma oportunidade que possa lhe trazer rendimentos, lembre-se de tratá-la com a mesma intensidade que você trataria uma situação caso se sentisse lesado por uma perda financeira!
Nos meus próximos artigos continuarei a falar sobre os vieses comportamentais e suas aplicações nas finanças pessoais.
Até lá!
Gostei muito do artigo, Hugo. Vou acompanhar sua coluna. Tema pra pensar mesmo…
Que bom que gostou Letícia! Ficou feliz em saber. Se tiver qual dúvida, é só falar.