F&L – Finanças e Leitura: Investimentos: Como administrar melhor seu dinheiro
A coluna de hoje será do livro Investimentos: Como Administrar Melhor seu Dinheiro, de Mauro Halfeld. Lançado em 2001, o trabalho de Halfeld foi indicado ao Prêmio Jabuti de Literatura, sendo o primeiro livro e o mais vendido dos 5 escritos pelo autor.
Meu primeiro contato com Mauro Halfeld foi pelo rádio, meio de comunicação que não tem mais tantos adeptos como um dia já teve. É colunista na rádio CBN e um currículo acadêmico que conta com um pós-doutorado no MIT.
Segundo a apresentação do livro escrita pelo próprio Mauro Halfeld e corroborada pela existência de consultorias e profissionais especializados em assessoria de investimentos, nossa formação deixa uma lacuna grande em um assunto muito relevante para o bem estar dos indivíduos: o dinheiro. É comum cometerem o equívoco de assumir que aprendi alguma coisa sobre dinheiro ou investimentos em minha graduação em Economia, cuja faculdade frequentemente aparece entre as 5 melhores do Brasil. Surpreendentemente tudo que aprendi sobre o assunto foi fora da faculdade e ouso dizer que antigos professores saibam menos que eu sobre o assunto.
Mauro Halfeld utiliza alguns casos comuns para tentar solucionar essa lacuna deixada pelo sistema educacional e em partes até pelos pais e familiares também. Trata de conceitos iniciais como Custo de Oportunidade, Depreciação, Cálculos de Custos Totais, etc. Aqui em nosso blog você consegue encontrar posts completos tratando desses assuntos comuns como: Vale a pena comprar ou alugar, carro ou Uber, entre outros.
Um assunto interessante e rotineiro que é abordado no livro é o conceito de prazo. Só investimos porque obtemos um retorno por isso. Abrimos mão de consumir hoje para consumir no futuro e requisitamos um rendimento por isso. Mas sobre esse futuro, quão longe ele está?
O indivíduo médio não costuma planejar muito adiante. Conceitos como curto prazo, médio prazo e longo prazo, até mesmo em termos econômicos, não possuem definições numéricas rígidas, se apresentando como um conceito bastante subjetivo. Tenho um amigo que chama 3 meses de longo prazo, ao mesmo tempo que penso em meus 60 anos como um longo prazo, provavelmente me surpreenderei quando chegar mais perto desse marco que passará a ser curto prazo.
Quanto mais longe da sua aposentadoria, mais risco você pode correr e menos liquidez você precisa. Dado um certo nível de risco que está associado a questões de preferências pessoais, jogando no longo prazo você consegue em geral obter rendimentos melhores do que se for excessivamente conservador e optar por investimentos mais líquidos.
Outra questão corriqueira são as chamadas “necessidades”. Ao adotar determinado padrão de vida nos encontramos presos a certos fatores que sustentam esse padrão de vida e, às vezes, nos esquecemos do que é de fato necessário ou não.
Uma sociedade de consumo como a nossa está sempre nos bombardeando com as mais variadas novidades tecnológicas. Você não necessita do carro do ano, do iPhone mais novo, muito menos de fazer uma viagem internacional por ano. Você QUER isso. São coisas sem as quais você sobreviveria caso perdesse o emprego.
Como tratado no meu post anterior, querer não é o problema, todos nós queremos. A chave é se perguntar se seu orçamento atual te permite e se você não está abrindo mão de coisas mais importantes no futuro para consumir no presente.
Por enquanto Halfeld ainda não citou investimentos em seu livro. Os três próximos capítulos tratam disso e serão a parte principal do post: investimentos em imóveis, em ações e negócio próprio.
“Quem investe em terra não erra”, “Tijolos não oscilam como os investimentos” são frases comuns para um consultor financeiro. De fato, muitas pessoas conseguiram bons rendimentos investindo em imóveis, principalmente em períodos mais distantes da história brasileira. Grande parte disso ocorreu porque somos ensinados e incentivados por políticas de subsídio governamental a comprar imóveis, o que cria uma demanda grande por esses ativos e eleva os preços.
Em investimentos tratamos volatilidade como risco. Se tivéssemos uma Bolsa de Valores de imóveis (talvez algo próximo disso sejam os Fundos Imobiliários), os riscos estariam mais claros.
Vender um imóvel em tempos de crise é difícil, principalmente se você não aceita que o valor da época de crescimento do mercado imobiliário não é mais o valor do seu imóvel. Se você perdeu o emprego e 100% do seu patrimônio está em imóveis, provavelmente passará por períodos difíceis.
Mauro Halfeld comenta vários outros riscos que não são levados em consideração como vacância em caso de imóveis para aluguel, invasões em caso de terrenos, o próprio risco de comprar um imóvel em um local que não se valoriza, construtoras que quebram antes de entregar o imóvel comprado na planta, reformas, condomínios com alto valor, dificuldade com inquilinos, etc.
O aluguel tem lados ruins também: o dono do imóvel pode rescindir o contrato, reformas normalmente são evitadas, etc. Entretanto, te dá flexibilidade para tomar grandes decisões. Uma proposta de trabalho em outra cidade, aumentar a família e consequentemente precisar de um apartamento maior, etc.
“Herdamos uma convicção de nossos antepassados de que investimentos imobiliários ofereceriam alto retorno e baixo risco. Discordo. Cabe-me alertar o leitor para não ser enganado pela lenda de que é impossível perder dinheiro com imóveis. Ao contrário, é muito mais fácil perder do que ganhar, como em tudo na vida. Só que nesse tipo de mercado, as pessoas costumam apregoar alto suas vitórias e esconder suas derrotas. Tenha muito cuidado!”
Sobre as ações, Mauro Halfeld continua utilizando casos para trazer pontos importantes. Novamente trazemos o conceito de longo prazo para a mesa. Se você não tem o longo prazo para poder investir em ações, ações não são pra você.
Torne-se sócio da empresa. Invista em ações que confia e que acredita no potencial de crescimento. Operar em ativos no curto prazo demanda conhecimento técnico e tempo que normalmente só se encontram no investidor institucional.
Assuma que você não sabe tudo e que isso não é um problema. Contrate um arquiteto para desenhar seu imóvel, um bombeiro para resolver pequenos problemas hidráulicos, um mecânico para seu carro, um gestor para seus investimentos. Isso economizará dor de cabeça e vários prejuízos para seu patrimônio.
Normalmente as pessoas mensuram risco de uma maneira subjetiva. Acham que a bolsa é muito arriscada e não colocaria seu suado patrimônio em algo tão volátil, mas acreditam que a melhor decisão é investir em imóvel ou em seu negócio próprio.
Concentrar não somente seu patrimônio mas também sua carreira em um negócio próprio é algo extremamente arriscado e a maioria das pessoas não consegue mensurar esse risco corretamente. A taxa de mortalidade de pequenas empresas é enorme, várias não chegam nem ao primeiro ano de existência e fecham as portas.
O retorno deve ser equivalente ao risco inerente do investimento. Uma forma de reduzir o risco é diversificar, opção inexistente em negócios próprios. Entretanto, se você é um empreendedor nato e quer abrir seu negócio, Mauro Halfeld te dá as dicas:
“Essencialmente, existem duas formas para ser bem-sucedido em negócios: fazer algo totalmente novo ou fazer algum negócio tradicional, porém melhor que os concorrentes.
Se você descobrir uma fórmula eficiente contra a calvície masculina, certamente será uma pessoa bem-sucedida. Outra alternativa seria manter um salão de beleza com excelente padrão de atendimento, a preços razoáveis e com ótima localização. A primeira alternativa exige uma enorme criatividade. Já a segunda pode ser viável, embora demande um enorme esforço hoje, amanhã, nos fins de semana e sempre. Em suma, ou você tem que ser um gênio criativo ou tem que trabalhar duro, mais e melhor do que seus concorrentes.”
De um modo geral o livro tenta mostrar pontos negativos e positivos de cada tipo de investimento para que você não caia nas mesmas pegadinhas que a maioria das pessoas cai. Para mensurar o risco de maneira certeira, procure sempre os prós e contras de cada investimento racionalmente, tente se livrar dos vieses comportamentais para evitar as perdas.