Pai Rico Pai Pobre

F&L – Finanças & Leitura: Pai Rico Pai Pobre

Caros leitores,

O livro de hoje, diferentemente dos dois primeiros abordados nessa coluna, está muito mais voltado para o planejamento financeiro. Digo isso pois Pai Rico Pai Pobre é uma cartilha de como você deve agir para ser bem sucedido, em todos os sentidos.

Para quem busca uma cartilha com passos bem descritos, como se fosse uma receita de bolo, talvez não seja a escolha certa. Muitas parábolas e diálogos, que provavelmente foram desenhados para explicar algum ponto de vista, podem tornar a leitura um pouco arrastada demais para quem tem pouca paciência e busca um tutorial de como ser bem sucedido financeiramente.

Isso, entretanto, não tira a validade do livro e de seus ensinamentos. Durante a leitura você irá se deparar com vários casos em que as pessoas ao seu redor, ou até mesmo você, se encaixam perfeitamente. Grande parte da escrita e das teorias do livro são passadas da perspectiva negativa: o que não fazer para se tornar bem sucedido!

De certa forma, com exemplos negativos o autor consegue causar um impacto muito maior para o leitor. Talvez você se motive mais ao pensar que pode precisar viver com um salário mínimo em sua idade avançada, tentando evitar ao máximo essa situação.

Vamos falar sobre o autor: Robert Toru Kiyosaki, nascido em 1947, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, período de intenso crescimento econômico nos EUA. Escreveu inúmeros livros, entre eles o best-seller Pai Rico Pai Pobre, lançado em 1997. Curiosamente, Kiyosaki criou alguns jogos de tabuleiro voltadas para o planejamento financeiro. Esses jogos são citados em vários momentos do livro, como a corrida dos ratos e a pista de alta velocidade (fast lane).

A História de Pai Rico Pai Pobre

Robert conta sua própria história, imagino eu adaptada em vários aspectos, e a de seu amigo Mike. Pai rico e pai pobre são vocativos que se referem ao pai de Mike e ao pai de Robert, respectivamente. Ambos os pais possuíam bons salários, porém a diferença está em outros aspectos. Inicialmente Robert não faz essa distinção. O ponto principal dessa ambiguidade é mostrar que apesar de seu pai possuir vários graus acadêmicos, ser professor e ter um intelecto acima da média, ele é o pai pobre. O pai rico era tão conceituado quanto o pai pobre.

O pai rico estava construindo o seu patrimônio, enquanto o pai pobre estava constantemente enfrentando problemas financeiros. É a partir daí que Robert começa a mostrar as diferenças entre eles e a relação entre as situações financeiras e as atitudes de cada um dos pais.

Robert menciona que foi criado sob as instruções firmes de seu pai: estude bastante e consiga um bom emprego, com estabilidade e garanta sua aposentadoria quando ficar velho. Seu pai, como mencionado anteriormente, passava por problemas financeiros apesar de ter feito tudo isso.

Apesar de ser de uma família mais simples, Robert estudava na melhor escola da região por um golpe de sorte pois as vagas nas escolas eram distribuídas de acordo com os bairros. Sua família morava em uma casa na fronteira desse bairro, assim como Mike.

Seus colegas sempre apareciam com brinquedos novos, seus pais sempre os buscavam em carros caros e andavam sempre muito elegantes. À medida que Mike foi crescendo, começou a questionar seu pai, que não dava respostas satisfatórias. Até porque claramente não funcionou para ele mesmo, como ele poderia ensinar algo que não sabia?

Entretanto, um dia que Mike foi visitar seu amigo, o pai pobre deu uma boa dica: de acordo com ele, o pai de Mike era elogiado sempre pelo gerente do banco, que era o mesmo dele. Mike se mostrou surpreso e marcou uma conversa com seu pai, juntamente com Robert.

A partir daí, começaram a trabalhar na loja de gibis do pai de Mike, recebendo um salário baixíssimo para a época e abrindo mão de seus sábados de baseball. Robert queria ficar rico, então fez de tudo para conseguir que o pai rico o ensinasse o que ele sabia.

Com seu salário, Robert mal conseguia comprar alguns gibis no final do mês. Após algum tempo, começou a ficar irritado com a situação, principalmente porque o pai pobre não havia trocado uma palavra com ele até então. Robert confidenciou isso ao seu pai pobre, que ficou irritado com a situação e aconselhou que pedisse demissão.

Ao chegar para conversar com seu pai rico, Robert desabafou, disse que ele era explorador, mesquinho e todos os adjetivos que vinham à cabeça naquele momento. Seu pai rico explicou então que aquilo havia sido premeditado e que não iria ensiná-lo como na escola, mas sim como a vida ensina, dando empurrões e não falando sem parar.

Robert ouviu seu pai rico dizendo que naquele momento ele era como seus outros empregados, sempre procurando aumento de salário e o culpando de seus problemas financeiros, sendo que a maioria nunca se preocupava em como gerar esse aumento.

Os pais demonstravam padrão de pensamento muito diferente entre si: enquanto os conselhos do pai pobre eram todos baseados no medo, medo de não conseguir um bom salário, uma boa aposentadoria, uma boa casa; os conselhos do pai rico enxergavam tudo isso como um meio e não como um objetivo: fazer seu dinheiro trabalhar para você. A chave não é ter medo do risco, é saber administrá-lo, aproveitar as oportunidades que surgem.

Um segundo exemplo dado pelo pai rico se baseia no ativo e no passivo. Eles são termos usados em contabilidade e que Robert explica de uma maneira simples: o ativo é o que gera renda, e o passivo é o que consome sua renda.

Como passivo, o exemplo mais famoso que posso me lembrar é o automóvel. Como ativo, os investimentos, sejam eles financeiros ou não, como em educação, seu próprio negócio, etc.

O pai pobre diz que o dinheiro só torna realidade aquilo que está na mente do indivíduo. Se o padrão é gastar tudo que ganha, elevar seu salário só quer dizer que os gastos aumentarão na mesma proporção. Inicialmente, o mais importante não é saber como ganhar o dinheiro, mas sim como gastá-lo, e os ricos gastam comprando ativos, que irão gerar mais receita.

Esta ideia não é muito diferente do conceito de Viver de Renda: ter um montante de dinheiro que garanta um rendimento mensal suficiente para manter seu padrão de vida sem avançar sobre o próprio montante. Temos uma ótima ferramenta gratuita que pode te indicar como atingir este objetivo: a Planilha de Diagnóstico Financeiro, que pode ser baixada aqui.

Os Ensinamentos de Pai Rico Pai Pobre

No meio de todos os ensinamentos passados pelo pai rico, os mais marcantes e que mais pude trazer para a vida pessoal foram esses dois: medo x risco e ativo x passivo.

Durante toda a adolescência, e ainda hoje, ouço falar que o ideal é prestar concurso, ser um funcionário público, que isso seria a personificação do sucesso. Não tiro o mérito de quem escolhe esse caminho, mas nunca foi meu sonho ir trabalhar todos os dias em uma repartição pública batendo carimbo só para ter uma aposentadoria. Falo isso da minha perspectiva atual, que pode se provar errada em algum momento, mas hoje não uso o medo como o driver das minhas decisões. Me parece um desperdício muito grande que algumas pessoas sensacionais joguem todo o seu potencial fora para ser servidor público. Um exemplo recente que vi em minhas rede social dizia que caso Bill Gates e Steve Jobs fossem brasileiros, Microsoft e Apple nunca existiriam, pois eles seriam funcionários públicos.

Sucesso é passar em um concurso, além de ter casa e carro próprio, dois passivos enormes. E por favor, não me diga que sua casa e seu carro são investimentos. Investimento é comprar barato e vender caro: você nunca vai vender sua casa, e seu carro não fica mais caro com o passar do tempo.

Encontre algo maior que a realidade, algum objetivo que o motive a levantar da cama diariamente. Nesse caso, como a autor utiliza vários exemplos negativos, os “não-quero” vão te ajudar a definir o que você quer: não quero depender da aposentadoria pública, não quero passar minha vida inteira esperando o salário para pagar minha fatura de cartão de crédito, não quero deixar de viajar, etc.

Sem inteligência financeira, entramos no que o autor chama da corrida dos ratos: esperar seu salário, gastá-lo com passivos, se endividar, pagar juros aos bancos, esperar o próximo salário. Trate o dinheiro como a ferramenta para alcançar seus objetivos, não o que te impede de alcançá-los. Estabeleça um valor mínimo de poupança mensal, sempre poupe o dinheiro antes de começar o mês, não invente desculpas, não eleve os gastos no mesmo nível que as receitas. Adotando esses hábitos, você sairá da corrida dos ratos e irá para a fast lane, a faixa rápida para os seus objetivos.

Conclusão

Talvez tenha sido o livro que mais tenha gerado emoções durante a leitura. Tudo parece tão óbvio quando se lê que chega a te deixar irritado! Porque praticamente todas as pessoas fazem o contrário disso?

Um amigo recentemente me confidenciou que sua esposa não sabia seu salário, assim como ele não sabia o dela. Como poderia um casal, que mora na mesma casa e divide as mesmas contas, não saber qual o salário de cada um? Pessoas próximas e distantes possuem problemas financeiros que poderiam ser resolvidos facilmente caso o dinheiro não fosse um tabu tão grande.

Um excelente livro para quem quer que o dinheiro deixe de ser sua frustração mensal e passe a ser a ferramenta para atingir objetivos cada vez maiores.

Abraços e até a próxima leitura!

 

rafael-alves-foto
Rafael Alves é planejador financeiro da WG Finanças Pessoais

 

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